Os
gregos, na Antiguidade Clássica, já diziam que o sustentáculo fundamental da
democracia e da cidadania é a res publica.
O que se destina à Nação, em toda a sua abrangência, tem que ser valorizado
pelo seu caráter público, principalmente pela classe política do País. É da essência republicana o
sentimento cidadão do respeito aos poderes constituídos, a confiança no
equilíbrio existente na divisão tripartite entre quem legisla, quem executa e quem julga.
Na contramão do que deveria
ser republicano, há uma máfia articulada com setores governamentais e com grandes
corporações, visando parasitar as contas públicas. O que existe, atualmente, é
a “governabilidade” da falcatrua (uma espécie de conspiração entre criminosos
associados para achacar os cofres públicos). Utilizam-se os aparelhos do Estado
para garantir a mafiosos seus próprios “negócios” com o dinheiro público e
perverter a democracia, alojando, nas instituições, os membros dos “esquemas”.
A corrupção passou a ser
condição da governabilidade. A “governabilidade” baseada nesses métodos serve a
interesses antidemocráticos e antipopulares – exemplo disso é o descaso com a
ordem urbanística, a saúde, a segurança pública, a educação, o transporte e, até mesmo, com o lazer
da população, no DF. Mas esse não é um problema apenas local.
A crise moral que afeta o
governo liga-se aos problemas que aparecem em outros Estados e é mais um
exemplo da situação geral das instituições no País. São essas as instituições
que sustentam a destinação de grande parte do orçamento para a especulação
financeira em prejuízo das reais necessidades da população e preservam o
sistema eleitoral e institucional que se retroalimenta do poder econômico.
As práticas escusas passaram
a ser pilares das próprias instituições. E a máfia instalada nas instituições
públicas do DF continua ativa. Ela garante seus próprios “negócios” com o uso
de dinheiro público. Parte desse dinheiro é utilizada para o “financiamento de
campanhas”, milionárias, que pervertem a democracia alojando nas instituições,
com poucas exceções, os membros dos “esquemas”. É assim que a coisa funciona –
e não é apenas no Distrito Federal, mas em todo o País.
Há uma equação maléfica
entre Estado, corrupção e fonte de lucros para investidores; porém de nada
adianta derrubar os corruptos de hoje se as portas ficarem abertas para a
corrupção de amanhã. É preciso varrer os corruptos, mas também a sua política e
as instituições que os acobertam e que alimentam seus crimes.
Há Política e
política. Política com P maiúsculo e política com p minúsculo. No
momento em que se aproxima o período de renovação eleitoral na Capital da
República, é necessário refletir que estamos em uma etapa histórica em que o
Distrito Federal precisa, como nunca, de estadistas. A cidade carece de lideranças
que tenham uma serena obstinação e que sejam servidas por uma firme coragem
moral. E que venham a ajudar
para que nossos ideais de justiça e governabilidade não se esmaeçam no processo
da construção das táticas e estratégias. Mas, acima de tudo, o DF precisa de
líderes que saibam que a política não é um projeto individual ou de um pequeno
grupo, e sim um projeto coletivo com dimensão de Estado.
(Cruzeiro-DF,
30 de março de 2014)