sábado, 11 de janeiro de 2014

A PRODUÇÃO RURAL DO DF CARECE DE UM PLANEJAMENTO INTEGRADO


Faz-se necessária a formulação de novas regras da relação entre os atores envolvidos nos processo produtivos do campo e o conjunto da sociedade do Distrito Federal, consolidando a participação democrática para promover o desenvolvimento rural brasiliense. O GDF poderia estabelecer uma orientação ambiental para apoios e incentivos comunitários, e criar um Fundo Distrital de Orientação e Garantia Agrícola, como instrumento cofinanceiro que suporte as políticas comunitárias de desenvolvimento rural. As políticas comunitárias rurais deveriam centrar-se na perspectiva da valorização das potencialidades sociais e físicas dos lugares e no horizonte de conservação e proteção ambiental desses mesmos lugares, contemplando medidas compensatórias para os habitantes rurais desfavorecidos.
   Seria de grande valia um enfoque para o desenvolvimento rural do DF que enfatizasse o local na aliança entre instituições e na busca de mercados. A intervenção no espaço rural tem de procurar a paridade com os espaços urbanos e industriais, aumentar as estruturas nas atividades agrárias, proteger o meio ambiente e desenvolver a participação comunitária. Nesse sentido, é de fundamental importância para a sustentabilidade desse processo a participação das comunidades, a fim de que determinem suas expectativas de desenvolvimento, fortaleçam seu patrimônio cultural e coloquem as organizações a seu serviço.
O fortalecimento de uma rede de interesses e conhecimentos, a partir da interação com as instituições de desenvolvimento rural, universalizaria as oportunidades e potencialidades do setor agrícola do Distrito Federal. Ações institucionais estratégicas que alcancem o desenvolvimento rural sustentável contribuiriam para atender os anseios e necessidades das pessoas que vivem e produzem em regime de economia familiar.
É necessário revalorizar as áreas rurais e fazê-las crescer populacionalmente, concebendo novas fórmulas, a partir da delimitação de espaços formados pela unidade cidade-campo e da sua dinâmica territorial. A necessidade de ações voltadas para o desenvolvimento e a inclusão social no Distrito Federal põe-se para o campo da mesma forma que para a cidade, pois, em ambos os espaços, grande parte da população pobre não alcança a plena cidadania. Coloca-se, desse modo, o desafio de conseguir que as lutas cotidianas criem novas instituições – mas ainda é necessário buscar o aumento da eficiência dos atores envolvidos no processo produtivo, com investimentos que propiciem o desenvolvimento econômico e social da zona rural do DF.
Para que se tenha uma ideia, a Capital Federal é o terceiro maior mercado consumidor de flores do País, quarto no consumo per capita, contudo somente 20% desta demanda são cobertas pela produção local, e o DF importa 80% do que é consumido no setor. Aliás, o segmento de produção de flores e plantas ornamentais, no Distrito Federal, ainda é pequeno, agregando um número restrito de produtores, que possuem pequeno grau de profissionalização. A floricultura local é constituída por pouco mais de 60 pequenos e médios produtores rurais. O pessoal do paisagismo e da jardinagem do Distrito Federal é dependente dos produtos adquiridos e fornecidos pelas lojas e revendas locais que, por sua vez, também dependem das flores e plantas ornamentais produzidas em outros Estados, o que eleva os preços.
No Distrito Federal, cada hectare plantado gera, em média, quatro empregos diretos. Portanto um desafio que se tem de aceitar é o de fornecer condições favoráveis para o escoamento da produção rural familiar de forma lucrativa e contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais.
O crédito, a educação e a escolha do canal de distribuição são relevantes na constituição da renda da agricultura familiar, pois ela apresenta indícios de descapitalização devido à baixa remuneração de seus produtos, ao endividamento e ao baixo poder de negociação na comercialização do que produz. Em Brasília, a questão crítica para o agricultor familiar é a comercialização, o que demonstra a necessidade de enfatizar-se esse aspecto na política de fortalecimento do setor, pois o canal de comercialização afeta o valor da produção.
No caso do setor de horticultura, por exemplo, a venda direta e as negociações através da CEASA agregam maior valor ao horticultor, porém a negociação por intermédio dos grandes supermercados é desvantajosa e comprime a remuneração dos fornecedores de hortaliças, cuja renda média gira em torno de apenas 2,4 salários mínimos mensais. Embora 61% dos horticultores do DF utilizem as feiras para comercializar sua produção, a feira, ainda que se trate de canal tradicional de comercialização, não é boa alternativa, pois, geralmente, localiza-se na periferia com produtos de menor valor agregado. Além disso, 79% dos horticultores do Distrito Federal trabalham com crédito racionado, e os financiamentos são mais utilizados para o custeio da produção. Isso evidencia a importância da existência de crédito para a comercialização que melhore a renda do agricultor familiar, devido ao seu baixo poder de articulação com o mercado.
Mantém-se importante a intervenção estatal como instrumento de políticas públicas no âmbito do desenvolvimento rural. A institucionalização de políticas públicas e crédito rural consolidaria a atividade agrícola na Capital do País. A implantação dos programas de crédito rural bem como o apoio à agricultura familiar e à irrigação pode dar nova conotação à geração de renda dos agricultores do Distrito Federal.
   O Estado pode colaborar no desenvolvimento do meio rural, possibilitando maior articulação desse setor com o meio urbano a partir da consolidação de fixos, tais como os mercados de comercialização dos produtos, CEASA etc. A ação do Estado é importante na implantação das políticas para o desenvolvimento rural e para uma maior articulação da produção do campo com a cidade.
Para tanto, o Governo do Distrito Federal deveria visualizar a propriedade rural como uma empresa que precisa conhecer o mercado em que atua. Quanto maior for a interação entre governo, empresa rural, consumidores, fornecedores de insumo e bancos, melhores serão os resultados, visto que o segmento de produção rural do DF carece de sistemas de planejamento integrado.
(Cruzeiro-DF, 12 de janeiro de 2014)