domingo, 9 de março de 2014

O PAÍS DO FUTURO?!


(A PASÁRGADA ECONÔMICA DE AFONSO CELSO E STEFAN ZWEIG)

Eu tenho pera, uva e maçã / Eu tenho Guanabara / E modelos revell / O Brasil é o país do futuro / O Brasil é o país do futuro / O Brasil é o país do futuro (...) – “Duas Tribos”; Legião Urbana.

O Conde Afonso Celso, filho do Visconde de Ouro Preto e trisavô de Dinho Ouro Preto, vocalista da banda de rock Capital Inicial, ao comemorar os 400 anos do descobrimento do Brasil escreveu o primeiro best seller nacional: “Porque me ufano do meu país”, que foi leitura obrigatória nas escolas por 50 anos. Dele, extraem-se pérolas de bobagens como:
“Negros, brancos, peles-vermelhas, mestiços, vivem aqui em abundância e paz. Entre nós há ausência de preconceitos de raça, decaindo mesmo em promiscuidade.”
“Notabiliza-se a floresta brasileira pela ausência de animais ferozes."
“Ninguém, querendo trabalhar, morrerá de fome. Parece país de milionários, tão largamente se gasta.”
“Quase todos os políticos brasileiros legam à miséria as suas famílias. Nenhum deles se locupletou à custa do benefício público.”

Esse livro foi o início do ditado popular “Deus é brasileiro”.
Afonso Celso morreu em Petrópolis-RJ.

Stefan Zweig foi um famosíssimo escritor austríaco, naturalizado britânico, radicado no Brasil em 1941. Apaixonou-se pela nossa pátria e escreveu a obra “Brasil, o país do futuro” (Brasilien ein land der zukunft), cujo título deu origem ao conhecido clichê ufanista.
Suicidou-se, em Petrópolis-RJ.

De nada adianta dizer que “este País é muito rico, este País tem muito futuro” com a economia estagnando ou apresentando crescimento pífio.
O estímulo ao consumo e ao gasto com políticas compensatórias não tem sido acompanhado pelo fortalecimento da poupança nem pelo necessário desenvolvimento produtivo da Nação. Aumentar a poupança contribuiria para que o País reduzisse a dependência de recursos externos e financiasse os investimentos em infraestrutura e produção industrial. Ou seja, a solidez do crescimento escora-se em um sistema de poupança.
Por outro lado, existe uma descrença da iniciativa privada no desempenho econômico do governo, a qual se reflete na queda do índice de investimento do empresariado na atividade produtiva. Agregue-se esse fator a uma desaceleração da economia global, e temos os ingredientes para a perda do ritmo de nossa economia. (E tudo indica que teremos mais um ano de baixo crescimento, com pressão inflacionária, traduzindo-se em maior desconfiança da iniciativa privada.)
Destaque-se que a infraestrutura e o nível produtivo da Nação ainda não são compatíveis com o tamanho do nosso mercado consumidor.Precisamos construir mais estradas, ferrovias, portos e fontes de energia para sustentar nosso desenvolvimento.
O Brasil não apresentará perspectivas de razoável crescimento econômico sem aumentar seu parque industrial, investir em infraestrutura e produzir tecnologia de ponta voltada para a indústria exportadora. Isso requer, prioritariamente, um sistema educacional de excelência.
Definitivamente, precisamos de um modelo de crescimento que priorize a educação. Há que se investir em mais escolas, na formação de professores e em uma política educacional integrada entre a Federação e os governos municipais e estaduais – de preferência, federalizada.
Estamos na contramão de uma educação de base de qualidade, que seria necessária para que houvesse inovação substancial para a formação de cérebros do País. Contudo há uma crise no ensino médio, com perda de alunos, destacadamente de jovens na faixa etária entre 15 e 17 anos, segundo revela o Censo da Educação Básica, divulgado pelo Ministério da Educação.
Faria sentido impulsionar a formação, aperfeiçoamento e valorização dos profissionais de educação – professores, gestores e técnicos educacionais –, porque uma boa educação requer professores bem pagos e ensino em tempo integral.
Embora cientes de nossa deficiência educacional, falta-nos uma política, com metas bem definidas, que ponha em primeiro plano os valores acadêmicos de competência, mérito e dedicação; porém optamos por inflar a quantidade de cidadãos com diplomas de nível superior de qualidade duvidosa, reveladores de um baixíssimo índice de aprendizagem. Então, necessitamos melhorar a preparação dos brasileiros para que saltemos à frente no processo produtivo e tecnológico.
Devemo-nos preocupar com a capacidade do Estado e do empresariado de criar riquezas a partir da inteligência nacional, agregando valor aos produtos e serviços brasileiros com base em inovação e novas tecnologias. Isso não se consegue da noite para o dia, mas, como dizem os chineses, a caminhada da estrada de mil léguas começa na primeira passada.
Portanto, iniciemo-la já. Caso contrário, continuaremos, no próximo século, a repetir o chavão: “este País é muito rico, este País tem muito futuro”.... (com direito a livros de futurologia e bandas de rock and roll herdeiras de uma esperança morta, Zé!)

(Cruzeiro-DF, 9 de março de 2014)