O
Partido dos Trabalhadores formou-se como partido de base operária, de oposição
ao regime, combatendo a corrupção dos poderosos. Agora, em face da condenação por
desvio de conduta ética de alguns dos seus principais dirigentes históricos, a
militância tenta reagir para manter o partido fiel aos princípios que o
nortearam em sua origem.
É
que o PT mudou. De agremiação política operária terminou por transformar-se em
partido operário-burocrático-burguês. Sua base continua operária e
trabalhadora, milita nas organizações sindicais da cidade e do campo, nos
movimentos populares de reivindicação urbana, e luta por moradia, melhores
condições de transporte, saúde, educação, segurança, saneamento, enfrenta o
aparelho de Estado pela reforma agrária e urbana. Com forte presença no
movimento estudantil, a juventude petista clama por justas condições de
educação para o país, e reivindica e luta para manter e ampliar as conquistas
históricas do estudantado brasileiro.
Contudo,
tal como em Animal Farm, de George
Orwell, a maioria da direção do partido foi deixando-se seduzir e corromper
pelo regime que, em princípio, combatia, e burocratizou-se. Ou seja, à medida
que o processo de organização sindical petista consolidava conquistas e ganhava
importância na sociedade, à medida que o partido elegia parlamentares,
prefeitos e governadores, a camada dirigente ia-se afastando de sua base. Assim,
o que começou como um afastamento do contato físico virou um afastamento do diálogo necessário
entre direção e base.
O
diálogo interno entre petistas acabou em conchavos entre os membros de sua
direção, ditando normas de cima para baixo. Ao conquistar, paulatinamente, o
poder político no País, ela optou por uma ampla política de alianças com as
classes dominantes que teve por consequência garantir a continuidade do regime
que antes combatia. Portanto, já não importava mais a construção do socialismo,
mas sim a perpetuação da camada dirigente no poder, adaptando-se para garantir
os métodos de condução partidária que se instituíram em uma prática oligárquica
interna, para assegurar um Processo de Eleição Direta que transformou os
votantes em “garrafinhas” a serem contadas pelos dirigentes estaduais e zonais,
manipuladas com churrascos, transporte grátis e pagamento tutelado de suas
contribuições partidárias na véspera e nos dias do PED. Antes, identificava-se
a posição política de um petista pela corrente ou tendência a que pertencia;
hoje, pelo “capa preta” a que se vincula dentro de sua própria corrente – com poucas
e honrosas exceções.
A
direção do PT passou não somente a defender a aliança com os donos do poder,
com a burguesia, mas também a incorporar políticas antioperárias do interesse
da burguesia e do capital monopolista internacional, de maneira que, hoje, o
partido possui grandes capitalistas filiados em seu seio. Não apenas cedeu aos
interesses do grande capital, mas capitulou ao social-liberalismo – seus governos
passaram a privatizar empresas estatais, a reprimir e a quebrar direitos
adquiridos pelos trabalhadores e estudantes, a afastar-se de uma prática
parlamentar condizente com a decência de seus primórdios.
Todavia,
apesar de usufruir das vantagens capitalistas, a direção do PT é burocrática,
mas não pertence à burguesia. Sem o traço de classe dominante, é abandonada
pelos verdadeiros donos do poder como descarte do resíduo corrompido por eles.
Que sirva de exemplo. A entregar seus próprios capatazes, o grande capital prefere
desvencilhar-se da burocracia sindical encastelada no poder. Serve-se dela,
neste momento, inclusive, para tentar desmoralizar a organização da classe
trabalhadora. Vale-se, para tanto, do aparelho repressivo do Estado, e usa o
aparato do Poder Judiciário para encarcerar exemplarmente aqueles burocratas,
que continuam iludindo a militância do PT.
Mas
a base do Partido dos Trabalhadores não é burguesa, e sim trabalhadora. E, como
tal, inclui-se na dinâmica política própria da luta de classes. Porém, afastada
do protagonismo político interno, descobre os desmandos e atos de corrupção de
que ela não participou e que se revela como sua própria negação de classe e
categoria.
Perplexa
ante o destino a que o Partido dos Trabalhadores sucumbiu, sua base militante
nem consegue crer nos fatos. E protesta. Apega-se às origens partidárias da
fundação do Partido, à outrora ética trabalhadora que era praticada e
surpreende-se ante um ex-Presidente da República que sequer se pronuncia frente
à condenação de importantíssimos dirigentes, a uma Presidenta que não tece um
comentário sequer. Ao ver seus heróis encarcerados, a ficha não cai – é que
fica difícil despir a imagem de um santo das vestes que o encobrem e trocá-las
pela capa demoníaca que, como fato, de fato lhes cai bem.
“Espertalhona”,
a burocracia pensava que as regras processuais do ordenamento jurídico que
serve ao grande capital também lhe seria subserviente. Enganou-se e, agora, vê
a sua verdadeira dimensão: bucha de canhão do capital monopolista internacional
e da governança mundial.
Quanto
à respeitável e, até mesmo, admirável militância do PT, tal qual no epílogo de Animal Farm, de Orwell, hoje, ao olhar para os seus dirigentes presos, e compará-los com os poucos honrados membros da sua direção
partidária, lembra o epílogo de “Animal
Farm”:
“As criaturas de fora olhavam de
um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem
outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era
porco.”
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