terça-feira, 19 de novembro de 2013

A MUDANÇA DO PT


 

O Partido dos Trabalhadores formou-se como partido de base operária, de oposição ao regime, combatendo a corrupção dos poderosos. Agora, em face da condenação por desvio de conduta ética de alguns dos seus principais dirigentes históricos, a militância tenta reagir para manter o partido fiel aos princípios que o nortearam em sua origem.
É que o PT mudou. De agremiação política operária terminou por transformar-se em partido operário-burocrático-burguês. Sua base continua operária e trabalhadora, milita nas organizações sindicais da cidade e do campo, nos movimentos populares de reivindicação urbana, e luta por moradia, melhores condições de transporte, saúde, educação, segurança, saneamento, enfrenta o aparelho de Estado pela reforma agrária e urbana. Com forte presença no movimento estudantil, a juventude petista clama por justas condições de educação para o país, e reivindica e luta para manter e ampliar as conquistas históricas do estudantado brasileiro.
Contudo, tal como em Animal Farm, de George Orwell, a maioria da direção do partido foi deixando-se seduzir e corromper pelo regime que, em princípio, combatia, e burocratizou-se. Ou seja, à medida que o processo de organização sindical petista consolidava conquistas e ganhava importância na sociedade, à medida que o partido elegia parlamentares, prefeitos e governadores, a camada dirigente ia-se afastando de sua base. Assim, o que começou como um afastamento do contato físico virou um afastamento do diálogo necessário entre direção e base.
O diálogo interno entre petistas acabou em conchavos entre os membros de sua direção, ditando normas de cima para baixo. Ao conquistar, paulatinamente, o poder político no País, ela optou por uma ampla política de alianças com as classes dominantes que teve por consequência garantir a continuidade do regime que antes combatia. Portanto, já não importava mais a construção do socialismo, mas sim a perpetuação da camada dirigente no poder, adaptando-se para garantir os métodos de condução partidária que se instituíram em uma prática oligárquica interna, para assegurar um Processo de Eleição Direta que transformou os votantes em “garrafinhas” a serem contadas pelos dirigentes estaduais e zonais, manipuladas com churrascos, transporte grátis e pagamento tutelado de suas contribuições partidárias na véspera e nos dias do PED. Antes, identificava-se a posição política de um petista pela corrente ou tendência a que pertencia; hoje, pelo “capa preta” a que se vincula dentro de sua própria corrente – com poucas e honrosas exceções.
A direção do PT passou não somente a defender a aliança com os donos do poder, com a burguesia, mas também a incorporar políticas antioperárias do interesse da burguesia e do capital monopolista internacional, de maneira que, hoje, o partido possui grandes capitalistas filiados em seu seio. Não apenas cedeu aos interesses do grande capital, mas capitulou ao social-liberalismo – seus governos passaram a privatizar empresas estatais, a reprimir e a quebrar direitos adquiridos pelos trabalhadores e estudantes, a afastar-se de uma prática parlamentar condizente com a decência de seus primórdios.
Todavia, apesar de usufruir das vantagens capitalistas, a direção do PT é burocrática, mas não pertence à burguesia. Sem o traço de classe dominante, é abandonada pelos verdadeiros donos do poder como descarte do resíduo corrompido por eles. Que sirva de exemplo. A entregar seus próprios capatazes, o grande capital prefere desvencilhar-se da burocracia sindical encastelada no poder. Serve-se dela, neste momento, inclusive, para tentar desmoralizar a organização da classe trabalhadora. Vale-se, para tanto, do aparelho repressivo do Estado, e usa o aparato do Poder Judiciário para encarcerar exemplarmente aqueles burocratas, que continuam iludindo a militância do PT.
Mas a base do Partido dos Trabalhadores não é burguesa, e sim trabalhadora. E, como tal, inclui-se na dinâmica política própria da luta de classes. Porém, afastada do protagonismo político interno, descobre os desmandos e atos de corrupção de que ela não participou e que se revela como sua própria negação de classe e categoria.
Perplexa ante o destino a que o Partido dos Trabalhadores sucumbiu, sua base militante nem consegue crer nos fatos. E protesta. Apega-se às origens partidárias da fundação do Partido, à outrora ética trabalhadora que era praticada e surpreende-se ante um ex-Presidente da República que sequer se pronuncia frente à condenação de importantíssimos dirigentes, a uma Presidenta que não tece um comentário sequer. Ao ver seus heróis encarcerados, a ficha não cai – é que fica difícil despir a imagem de um santo das vestes que o encobrem e trocá-las pela capa demoníaca que, como fato, de fato lhes cai bem.
“Espertalhona”, a burocracia pensava que as regras processuais do ordenamento jurídico que serve ao grande capital também lhe seria subserviente. Enganou-se e, agora, vê a sua verdadeira dimensão: bucha de canhão do capital monopolista internacional e da governança mundial.
Quanto à respeitável e, até mesmo, admirável militância do PT, tal qual no epílogo de Animal Farm, de Orwell, hoje, ao olhar para os seus dirigentes presos, e compará-los com os poucos honrados membros da sua direção partidária, lembra o epílogo de “Animal Farm”:
“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.
 
ATENÇÃO: O blog Professor Salin Siddartha é atualizado com nova matéria apenas aos domingos!
 

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